sexta-feira, 20 de junho de 2008

Mergulhar a cabeça nas mãos...

Quantas vezes mergulho a cabeça nas mãos, incrédulo com a indecisão, o “tu não entendes”, o “mas é que” e outras parábolas indeterminantes que não dão asas à mudança e à libertação definitiva de certos males ou atitudes abusivas. Por vezes um simples, directo e autoritário “não” é um excelente insecticida desparasitante que nos honra e fortalece em relação aos usurpadores de alma, mentes utópicas que só nos fragilizam… mas eu sei, eu sei que é um processo moroso em que pouco ou nada posso fazer porque enquanto houver o pavor à mudança, haverá sempre falta de vontade em evoluir e crescer…

Depois existem os locais onde se veneram o falso, temporário e irreal êxtase do momento que gera dependência e quando surgem os problemas reais, os momentos de decisão, normalmente dispara o mecanismo de defesa em que é mais fácil acabar ou fugir dos problemas que enfrentá-los… mas essas atitudes não resolvem nada, o “está-se bem” apenas disfarça e atenua a dor do momento, a verdadeira dor é a que nos faz sentir vivos, úteis e dispostos a mudar, a lutar por algo melhor…

E sente-se por vezes uma tensão no ar, o fraquejar perante os hábitos, os vícios, os tabus, o círculo fechado de guetos ditos de amizade, de tribos da sociedade onde não se enxerga o bom senso e não se dá voz à razão… que vontade em defender, teorizar e expor certas ideologias ou metodologias e não as colocar em prática, em não auto-praticar e não utilizá-las porque só servem para os outros, porque a mim não me acontece nada, porque sou consciente dentro da pouca lucidez, porque sou um ser superior aos outros ou um super indivíduo que é imune aos males que nos rodeiam… que verdadeira hipocrisia, indolência pura e cristalina onde só não vê e não crê quem não quer… como gostaria de pensar assim, ou seja, não pensar, ser insensato e ver o mundo como uma criança de 5 anos…

Como gostaria de me afastar, de prolongar a distância entre vontades sem perder aqueles que realmente gosto, como gostaria de me distanciar das fraquezas ou aspectos que podem fragilizar o meu bem-estar, a minha vida pessoal e profissional sem deixar de parte aqueles que venero, que amo… mas é irredutível… quantas vezes sinto que estou a atravessar um quarto ou local e sinto que estou a deixar-me ser levado pelo momento e pela multidão, ou será que são os locais e as multidões que se deslocam e fluem por entre mim, sem me mexer, impávido e demasiado sereno quanto à mudança? E estou num lugar onde reconheço a cara de toda a gente mas na realidade não conheço ninguém, são todos conhecidos mas ao mesmo tempo estranhos…

Realmente, por vezes, prefiro não saber, estar ausente de preocupações supérfluas que apenas vão alimentar mais chatices… mais vale ignorar certos assuntos, dando-lhes a importância que merecem que é nada ou quase nenhuma… pois as rotinas do culto inconsciente só são perceptíveis para quem as analisa de longe e eu sei que a realidade encontra-se nos momentos lúcidos e a fantasia nos delírios…

Na verdade não receio o amanhã, apenas tenho medo no que me posso vir a tornar ou no que posso vir a fazer… e sinto a falta de acordar ao teu lado, de sentir o teu cheiro, absorver o teu calor e não me sentir esquecido pelo mundo, incompleto, só e amargurado…

Sem comentários: