sexta-feira, 27 de julho de 2007

Que será pior?...

Não sei o que será pior, não ser querido ou não desejar ninguém. O primeiro reflecte um estado de abandono, de mágoa, de afastamento ou substituição. O segundo espelha uma situação de indiferença, de frieza, uma apatia maçadora que recai numa existência difícil de imaginar, sem fervor e sem propósitos, um colossal trambolhão no abismo da insensibilidade.

É óbvio que não desejaria passar por nenhuma destas situações mas a vida é arbitrária e injusta, nem sempre obtemos aquilo que queremos mesmo que lutemos por isto ou contra aquilo. “Shit Happens” mas por vezes poderia ser evitada, contornada ou tida em conta quando sabemos que podemos ferir alguém, basta para isso pensar antes de agir, utilizar esse meio-neurónio que está a matutar sobre a “morte da bezerra” em algo útil. Outras vezes, tais atitudes são premeditadas, intencionadas e maliciosas…

Seja propositada ou não, é preferível receber uma pancada forte, fria mas única e sincera que passar por uma tortura desmedida e permanente que aparenta não ter fim. Antes a verdade nua e crua que uma mentira ou meia-verdade. Por outro lado, ficar numa solidão deliberada, num desinteresse irrevogável ou circunstancial, que vida é esta? Nada satisfaz na íntegra, somente agrada temporariamente, numa situação esporádica… também não quero isto, aspiro por mais, por uma felicidade eterna, junto de alguém que me compreenda, que me deseje e cujos objectivos e sentimentos sejam idênticos e recíprocos.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Híbrido...

Conceitos contraditórios provocam em mim o desejo de amaldiçoar e ao mesmo tempo admirar o silêncio da noite, o cantar sedutor dos grilos, o entoar das árvores, o murmurar da brisa nocturna, o odor da terra humedecida, a suavidade do orvalho, ameno, emudecido, omisso da vista mas presente no tacto, o palpitar do músculo da vida… até a mosca que me zomba cerca dos ouvidos, inconveniente mas também bem-vinda, que me faz companhia neste instante de solidão, neste sítio ermo onde apenas habita alguém que já foi gente, a mosca atrevida e uma dúzia de aranhiços que fazem dos ângulos desta habitação o seu lar. Olho fixamente o tecto e ouço desatento o ruído da televisão, aéreo, num estado leviano e híbrido tento reflectir… nada sai, tudo se mantém igual… bem, igual não, parecido com o que era… não sei se saboreie mais uma loira ou se as deixe para amanhã, se devo sair esta noite mas nesta madrugada de segunda para terça-feira que noite mais tranquila está lá fora porque cá dentro está um reboliço, uma mescla de ideias alucinadas e inconformado ouço o latir dos cães da vizinhança, os felinos no telhado… tudo parece perturbar e que se lixe, vou sair, espairecer, nem que seja só para matar o tempo, cansar o corpo e descansar a alma. Amanhã é outro dia, outra insónia e outra noite semelhante às restantes.

Tolice...

Não estou maluco! Doido, eu? Insano? Estarei? Existirá outra forma de levar a tolice ou será este o meu estado normal? Terei atitudes e pensamentos considerados invulgares pela sociedade? Será resultado de alguma insanidade mental ou estarei meramente a ser julgado de forma diferente pelos outros?

Procuro teimosamente um tratamento eficaz para estes distúrbios mas infelizmente tenho noção da realidade e do meu problema, desta neurose incómoda, ou será mais do que isso? Poderá ser uma fuga da realidade, a loucura propriamente dita? E a razão, esta palavra, esta loucura que é de todos, que nos pertence e que nos conduz à insensatez, à confusão incessante, à imbecilidade intransigente… assim pensam os restantes indivíduos! Os outros, aqueles que ainda se julgam sadios… coitados ainda não se inteiraram da sua demência.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Engenharia...

Engenharia é a arte de aplicar princípios científicos e matemáticos, experiência e senso comum de forma a beneficiar o Homem. Dizem que os Engenheiros solucionam problemas… hum? E se há problemas que não têm solução, teimosias incompreensíveis, gente que não aprende… para que servem os engenheiros nessa ocasião? Por muito cauteloso, sensato e racional que seja, por muito que tente, há questões demasiado misteriosas e impenetráveis, há sempre aquele lado sombrio que ninguém compreende, impossível de assimilar, difícil de reformular, birrento por reflectir! Que fazer nessas situações? Simplesmente devo renunciar a sua resolução, devo mantê-lo em estado hibernoso ou devo meramente ignorá-lo? Como engenheiro condeno estas incertezas e é custoso deixar discussões em aberto, entre linhas, num entrave emperrado que me impede de raciocinar correctamente, é aquela espinha atravessada na garganta que nem com pão e água desengata, é aquele pico encravado na pele que continua a picar dia após dia, mês após mês e que parece não desaparecer. A vida continua… sim é verdade mas subsiste indefinidamente uma ponta que fica para trás, que não me satisfaz como ser, que não me liberta a alma… vou vivendo o dia, evitando complicações, fugindo do passado, sem grandes objectivos para o futuro, tomando decisões na hora, sem pensar muito no destino e nos rumos a percorrer… e vou meditando, pode ser que um dia consiga chegar a alguma conclusão…

terça-feira, 17 de julho de 2007

Mente-se...

"Mente-se por tudo e por nada. Mente-se para não incomodar nem afligir, para não se ser demasiado agressivo ou brutal, para não se dar má impressão, para não humilhar o outro; mente-se até para se ser simpático e corresponder ao que o outro ou a situação propiciam."

Isabel Leal

domingo, 15 de julho de 2007

Derrota...

"De repente, fugir tornou-se uma dignidade. Já ninguém aguenta uma derrota. A persistência; a determinação e, sobretudo, a bendita paciência são hoje qualidades desprezíveis. Aguentar e esperar pela próxima oportunidade consideram-se teimosias gananciosas; arrogâncias; estupidezes."

Miguel Esteves Cardoso

Denominação...

Ultimamente têm-me pedido para modificar a denominação do blog, referem que já está desactualizado ou que não devia ser tão saudoso… por um lado até compreendo e concordo com estas individualidades mas por outro… não sei, apenas entendo que enquanto reprimir um agregado de sentimentos, enquanto sentir saudades daquela febre que nunca descansa, enquanto me faltar calor humano ao ponto culminante de quase desistir, enquanto me sentir só, sem saber para que lado me devo dirigir e enquanto me sentir num estado incompleto, meio acinzentado e sombrio onde vou procurando aproveitar as sobras de felicidade que me oferecem e me lanço à luta em busca do triunfo, expondo-me ao insucesso, incrédulo, onde o meu abismo é um céu para quem não sente culpa de nada… vou, por enquanto, mantendo o título, o “amargurado”, este local nefasto e perturbado… mas até quando?

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Trova...

Como invejo não ser completamente arrojado e imprudente, simplório e ingénuo, inconsciente e desconhecedor do perigo, de não ser um espírito livre e difamado, menosprezando a tolice dos demais… ao invés tomo atitudes independentes e cautelosas, sou minucioso na arte de reflectir e actuar, e zelo, por vezes, demasiado por mim e pelos sentimentos dos outros, opino excessivamente sobre os juízos que possam fazer de mim e pela inconfortável justificação de quem aldraba descaradamente. Que lamentação, que trova efémera que, um dia, provavelmente, dará asas ao regresso em força do génio da meditação, da ponderação compassiva e de outras fortunas.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Ambiguidade...

Ó ambiguidade… que hesitação em tomar decisões, em pisar o risco, em provocar um deslize intencional. Odeio esta instabilidade, detesto desconhecer o vindouro e renego o infortúnio… maldigo a falta de firmeza, a escassez de equilíbrio e de propósitos.

Como gostaria de governar eficazmente os meus pensamentos, de ter forças para defrontar os dissabores do amanhã e de afogar as amarguras de ontem. Como apreciaria esquecer os incidentes entreabertos que tendem a ficar presos entre duas resoluções, numa indecisão permanente, numa angustiosa expectativa…

Sinto que resido numa insónia inalterável, numa vivência deturpada, numa indolência que me aprisiona… onde, ocasionalmente, talho na imaginação aquilo que poderia ter sido se abraçasse outro rumo, se não me transformasse num escravo da rotina, se esquivasse os conselhos sensatos… e neste momento, qual será a janela para a razão? Devo usufruir dos brindes que brotam, seguir um fado incerto ou perpetuar a lembrança?

sábado, 7 de julho de 2007

Vou caminhando...

Vou caminhando por aí, trilhando, jornada após jornada, meio sem rumo, meio sem jeito, à procura de orientação. É como perder a bússola, é uma pedra no sapato que me faz atrasar o passo, que não me deixa andar direito, que me faz cambalear, que me faz despistar, que me faz sair do percurso.

São estas coisas que me incomodam, que me tiram o descanso… um estorvo que atrapalha, uma passividade para com a vida, este comportamento indiferente e apático aborrece-me, tal como os hábitos antigos e a ausência de ruído… às vezes sinto necessidade de ausência, de afastamento, outras vezes procuro simplesmente experimentar outra rotina, outro sabor, outra cor…

Por vezes é preciso saber calar, surpreender os outros com o meu silêncio e quietude. Resta-me a eterna busca pelas respostas às minhas interrogações existenciais, abandonar o passado e tentar abraçar o futuro... não sei quando nem sei como... só sei que vai ser difícil voltar a sentir confiança em mim mesmo...

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Elogio ao amor...

"Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo. O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.

Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.

Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?

O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar.

O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.

O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não está lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."

Miguel Esteves Cardoso

(Obrigado amiga... por me teres enviado isto... adorei!)

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Matrimónio...

Só de pensar que considerei contrair matrimónio com aquela anomalia da sociedade, com aquela aberração da natureza, dá-me náuseas… até os cachorros conseguem ser mais fiéis e os restantes seres são pelo menos honestos em relação às suas atitudes e posições perante as adversidades.

O embaraço não devia ser a aliança, o problema estaria em ela andar com a aliança na mão e isso realmente não se faz… pelos nomes chamados, pela reputação, pela conduta e comportamentos que teve, deveria usar na pata! E colocar uma aliança na pata deve ser uma tarefa habilidosa e engenhosa, quase inexequível e inglório para o comum mortal… é capaz de não passar nas unhas!

O matrimónio, esse vínculo, o nó que deveria simbolizar uma relação entre duas criaturas na qual a independência seria igual, a dependência seria mútua e a obrigação recíproca… Onde está? Olho em meu redor e deparo com um compromisso ilusório e em desmoronamentos constantes e inesperados… Será que perdeu significado ou estará a humanidade a sofrer com o progresso descontrolado e hipócrita? Assim é difícil assimilar e mais uma vez volto a afirmar: “Anda tudo parvo!”…

Mas sinceramente, que tema mais desinteressante, de escassa importância neste momento, que está quase extinto… todavia, por vezes, surge a assombrar, a zombar, a ludibriar os meus inestimáveis pensamentos e carece de uma paulada, precisa levar com a pá pelos “cornos” abaixo porque aparenta estar mal enterrado e necessita de uma ajudinha, de um empurrão para que desapareça de uma vez por todas.

A verdadeira loucura talvez não seja mais do que a própria sabedoria que, cansada de descobrir as vergonhas do mundo, tomou a inteligente resolução de enlouquecer...
(Heinrich Heine)

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Pequeno-almoço...

O pequeno-almoço ou desjejum descreve a quebra do jejum involuntário mantido durante o sono, durante um adormecimento inconsciente mas de certo modo necessário, indispensável neste período de luto. A palavra também deu origem à expressão breakfast que retém o significado original do latim (quebra-jejum)... Realmente foi isso, foi o desenguiçar, foi voltar à actividade, foi de certa forma renascer para a vida, quebrar a abstinência… foi reviver sensações e momentos que dava como perdidos, errantes, ápices longínquos que reencontrei num acaso, em alguém que estava tão necessitado como eu para desfrutar da primeira e mais importante refeição do dia. Sinto que estou numa boa fase, numa boa maré… pode não ser nada, pode não ter futuro mas tem muito significado nesta ocasião, neste instante… e é tudo o que me faz falta, é o meu alicerce, é a alavanca para uma existência jovial… Bom apetite!

Escrevemos porque ninguém nos ouve…
(Georges Perros)

domingo, 1 de julho de 2007

Discrição...

Tantos acontecimentos têm florescido em tão pouco tempo que nem sei o que publicar… talvez seja do cansaço ou do abuso de drogas lícitas desta sociedade que me têm mantido desperto num transe desinibido mas assustador ou será da inquietude de não saber o que fazer, da confusão, desta agitação momentânea à volta do meu ser.

Neste momento prefiro manter a discrição, a prudência como precaução de um juízo que pode ser menos próprio, sem querer pisar ninguém, sem me magoar a mim e sem ferir susceptibilidades.

Apenas sei que os diálogos que tenho tido, os sorrisos que espalharam, os convívios, a delicadeza das tuas mãos e o abraço foram dóceis e eram o que precisava… Obrigado.